Os bastidores e observatório da diversidade

O que você precisa saber sobre a economia do conteúdo.


Se eu te perguntar quais são as maiores empresas de tecnologia, você provavelmente vai citar os nomes que a gente conhece (e consome) há anos: Google, Facebook, Netflix... Sim, elas são empresas de tecnologia. Mas, e se eu te disser que essas empresas se destacam mesmo é pelo conteúdo, você acreditaria? Vamos analisar o Google, por exemplo. É inegável que a empresa investe pesado em tecnologia e tem um poderoso algoritmo para responder às nossas infinitas perguntas no dia a dia, mas, em termos de modelo de negócio, ela ganha dinheiro mesmo é com o patrocínio da curadoria de conteúdo que oferece. E não é pouca grana, não. Só em 2020, a máquina de publicidade online do Google (o Ads) rendeu receita de US$ 183 BILHÕES - isso sem produzir uma linha sequer de conteúdo. Intrigante né?

Leia atentamente este trecho do livro: "Neuromarketing: como a neurociência aliada ao design pode aumentar o engajamento e a influência sobre os consumidores", de Darren Bridger...

"Sob alguns aspectos, a world wide web, ou rede mundial de computadores, é como que o maior experimento psicológico de todos os tempos. Um mercado psicológico em que, todos os dias, milhões de designs, fotos e imagens são lançados e testados com base em milhões de reações comportamentais: cliques."

A mesma coisa acontece com o Facebook. Quantos posts por dia são publicados no mundo em todas as plataformas dessa gigante da tecnologia? Milhões, certamente. Claro que o mastro que faz essa engrenagem rodar é o algoritmo, mas o conteúdo, de novo ele, é que paga a conta. Somos nós - eu, você e nossos amigos e conhecidos - que alimentamos com nossos posts e stories esse palco gigante para marcas e que, adivinhe só, também é uma mina de dinheiro. No ano passado, a receita do time do Mark Zuckerberg com propaganda atrelada a conteúdos no Instagram e no Facebook foi de cerca de US$ 85 BILHÕES. Novamente, sem produzir uma linha sequer de conteúdo.

"Métricas como listas de trending, ou tendências populares, mídias sociais, medem o pulso psicológico global, mostrando o que as pessoas estão pensando, sentindo e desejando em todo mundo." (Darren Bridger)
Episódio da vida real que acabou virando meme: "Mark Zuckerberg drinking water".

Poderíamos ficar só nessas duas gigantes para explicar que o nome do jogo hoje na internet é o conteúdo, e não a tecnologia por si só. Outra grande empresa que entendeu isso rápido foi a Netflix. No começo, ela apenas reunia filmes e séries de outras produtoras. Com o passar do tempo, percebeu que o diferencial seria criar suas próprias produções para se destacar em um mercado que anda acirradíssimo e conta com rivais que também nasceram como tecnologia e hoje expandem seus negócios, como Amazon Prime Video e AppleTV+. Uma é conhecida pelo varejo e a outra pelo iPhone, porém ambas sacaram que poderiam ir além e apostar no conteúdo como fonte de receita.

"O computador é como uma bicicleta para a mente." - Steve Jobs, fundador da Apple.

O que tudo isso tem a ver com a gente? A resposta é: muito! Não é à toa que o número de influencers e de produtores de conteúdo disparou nos últimos anos. Com o crescimento dessas plataformas como modelos de negócios e o aumento da competição entre elas, a briga pelos melhores conteúdos favorece toda uma geração de produtores interessados em contar boas histórias. A verdade é que pessoas como eu e você podemos ter acesso a oportunidades valiosas que nos permitem tentar fazer disso a nossa profissão, já pensou? Ao contrário de antigamente, em que os canais de comunicação eram restritos - tanto do ponto de vista de acesso quanto de distribuição -, hoje o palco e o microfone estão abertos para que contemos ao mundo a nossa visão das coisas. E o alcance pode ser estrondoso!

O Diego Barreto explica esse fenômeno. Ele diz que antes era necessário ter acesso a bons estudos para concorrer a boas oportunidades profissionais, mas que hoje, graças à internet, é o talento que manda. "Basta tirar a bunda da cadeira e começar", diz ele ao citar como exemplo o Whindersson Nunes. E eu concordo. Mas, é bom destacar que esse processo não é tão simples assim. Como tudo na vida, é preciso ter uma boa estratégia, tanto para pensar no planejamento de conteúdo quanto para executá-lo. Você que me segue nas redes sociais acompanha as dicas que dou para tirar ideias do papel, se expressar bem e conseguir contribuir com outras pessoas que querem se desenvolver na área. Além disso, recomendo acompanhar também o Ícaro de Carvalho, um dos principais nomes em termos de produção de conteúdo.

É bom prestar atenção nesse assunto porque tem muitas oportunidades rolando mesmo. Criaram até um nome para esse movimento: Creator Economy (algo como a economia dos criadores). Como explica a Bia Granja (outra referência no tema) neste artigo da Exame.com, a Creator Economy é movimentada pelas empresas que oferecem ferramentas para permitir que nós, criadores de conteúdo, consigamos fazer disso um trabalho na internet. As estatísticas, inclusive, são bem animadoras. A Forbes fala em um mercado de cerca de US$ 100 bilhões, sendo que o YouTube sozinho responde por cerca de 30% dessa grana toda. Nem preciso dizer como a pandemia acelerou esse setor, né? Assim como tem um outro componente que fez bombar ainda mais: a chegada da geração Z ao mercado de trabalho. Afinal, quem tem conhecidos na faixa dos 20 e poucos anos sabe que muitos deles não querem um emprego tradicional; querem fazer da internet seu ganha pão.

Só que tem um problema nessa história: a conta não fecha porque grande parte da grana ainda está nas mãos das empresas que comandam o jogo. Eu falei do Google e do Facebook, mas temos representantes brasileiros importantes também, como a Hotmart. O desafio está em remunerar de forma justa essa geração de produtores de conteúdo que têm vontade de sobra para contribuir com a evolução do mercado. Recentemente, o Google até anunciou investimento em projetos jornalísticos e outras iniciativas para projetos independentes também estão no radar, mas a verdade é que ainda é insuficiente. A grande discussão do momento é como repartir o bolo para que todos possam sair ganhando e que essa seja uma indústria de fato sustentável. Voltando ao texto da Bia Granja, como diz Jack Conte, fundador do Patreon, pioneiro nessa indústria: “Enquanto os primeiros 20 anos da web foram sobre distribuição e ajudar os criadores a descobrir como alcançar audiência, os próximos anos da web serão sobre reconstruir o mecanismo financeiro para remunerar essas pessoas. Isso vai criar gerações de creators profissionais em tempo integral”.

"Em grande parte, todos somos agora criadores de conteúdo gráfico. Mesmo quem não  tem blog ou conta em mídias sociais ainda pode criar conteúdo visual em apresentações de trabalho." (Darren Bridger)

Enquanto não há respostas prontas, eu tenho uma recomendação para quem tem interesse em se devolver nessa área e quer estar pronto para galgar todas as boas oportunidades que aparecerem.

Recomendo o 'Vai Fundo!', do empreendedor americano Gary Vaynerchuk, que mostra como usar os recursos da internet para fazer de seus interesses negócios reais. Você já leu o livro?

Um agradecimento especial ao meu amigo jornalista Marcelo Gripa, co-fundador de Futuros Possíveis, que me ajudou a escrever o texto deste post.

Leonardo Coletti

Leonardo Coletti