O fim do mundo

'Temporary Spaces', do fotógrafo Martin Eberle.

A cena techno de Berlim teve origem na década de 1980, pouco depois da queda do Muro de Berlim em 1989, que marcou o fim da Guerra Fria e a reunificação da Alemanha.

Com a reunificação, a cidade foi palco de uma efervescência cultural e social, e os espaços abandonados, principalmente na antiga Berlim Oriental, tornaram-se locais para o desenvolvimento de uma cultura alternativa e underground.

A combinação de espaços abandonados, aluguel acessível e uma atmosfera liberal criou o cenário ideal para o florescimento da música eletrônica, especialmente do techno. Raves e festas clandestinas começaram a ser realizadas em locais como armazéns, fábricas vazias e bunkers da Segunda Guerra Mundial, tornando-se conhecidos como "Tanzdemos" (dançando emos) ou "Frei Partys" (festas livres).

A partir dos anos 90, Berlim se tornou um ímã para artistas, músicos e clubbers de todo o mundo devido à sua reputação como a capital mundial do techno. A cidade abriga alguns dos clubes mais icônicos e influentes da cena, como o Berghain, Tresor e Watergate, que ganharam reputação internacional e se tornaram símbolos da cultura techno.

Clube underground de Berlim, Tresor (1997)

O Tresor é um dos clubes mais icônicos de Berlim e é considerado uma lenda na cena techno. Foi inaugurado em março de 1991, logo após a queda do Muro de Berlim, em um antigo complexo de cofres subterrâneos de um grande armazém abandonado na região central da cidade. O nome "Tresor" é alemão para "cofre", uma referência à história do local.

Desde o início, o Tresor foi um ponto de encontro para amantes da música eletrônica, especialmente do techno e do trance, que estavam ansiosos para experimentar uma nova liberdade cultural na Berlim pós-reunificação. O clube rapidamente se tornou um símbolo da cultura techno e do espírito underground da cidade.

O Tresor era conhecido por suas festas de longa duração, que muitas vezes duravam até o amanhecer e além. Sua localização em um espaço industrial subterrâneo adicionava uma atmosfera única e imersiva às festas, contribuindo para a sua reputação como uma experiência única.

Durante os anos 90, o Tresor atraiu DJs e produtores de renome mundial, tornando-se um local de peregrinação para a elite da música eletrônica. Além disso, o clube também foi um importante centro de experimentação musical, abrindo espaço para novos talentos emergentes e gêneros musicais inovadores.

No entanto, como acontece com muitos clubes de techno, a história do Tresor também enfrentou desafios. O clube foi fechado em 2005 devido a problemas relacionados ao edifício e problemas legais, mas renasceu em uma nova localização em 2007, mantendo a essência e a energia que o tornaram tão especial.

Desde então, o Tresor continua a ser um dos principais clubes de techno em Berlim, oferecendo uma experiência única para os amantes da música eletrônica de todo o mundo. Além disso, o Tresor também possui um selo musical próprio, lançando faixas e álbuns de artistas talentosos, contribuindo ainda mais para a cena eletrônica de Berlim e além.

Eimer, um dos icônicos clubes de Berlim (1996)

A continuidade e a força da cena techno de Berlim ao longo dos anos se devem a vários fatores, podemos citar alguns entre eles.

Tradição e história: Berlim tem uma rica tradição de música eletrônica, desde os primeiros dias do techno até o presente. A história e a reputação da cidade como um bastião da música eletrônica atraem continuamente novos talentos e fãs.

Espaços culturais: a cidade continua oferecendo uma grande quantidade de espaços culturais e clubes dedicados à música eletrônica. Além dos clubes famosos, há uma infinidade de locais menores e eventos em espaços alternativos que mantêm a cena viva e diversa.

Mentalidade aberta: a cultura de Berlim é conhecida por ser progressista e aberta a diversas expressões artísticas e culturais. Isso cria um ambiente acolhedor para a música eletrônica e para aqueles que a apreciam.

Comunidade global: a cena techno de Berlim atrai entusiastas de música eletrônica de todo o mundo, o que enriquece a cena e a torna globalmente relevante.

Eventos e festivais: Berlim hospeda inúmeros eventos e festivais de música eletrônica ao longo do ano, como a Love Parade, o CTM Festival e o Berlin Atonal, que mantêm a cidade no centro da cena.

Preservação do espírito underground: a cidade continua abraçando as origens da natureza underground da música eletrônica, mantendo-a autêntica e resistente às influências comerciais excessivas.

Esses fatores combinados mantêm a cena techno de Berlim vibrante e atraente para os amantes da música eletrônica, garantindo que ela continue forte como nos anos 90 e além. No entanto, bom lembrar que as cenas musicais estão sempre em evolução, e a natureza dinâmica da música eletrônica significa que podem surgir novos estilos e tendências ao longo do tempo.

Os ares de liberdade dos anos 90 não se refletiram apenas na música eletrônica. A cena techno também influenciou a moda e desenvolveu uma estética própria em Berlim, na Alemanha.

A cena techno de Berlim teve um impacto significativo não apenas na música, mas também na moda e na estética geral da cidade. Durante os anos 90, Berlim era uma cidade que passava por grandes transformações após a reunificação, e a cultura techno foi uma parte importante desse processo de mudança.

A estética da cena techno de Berlim era caracterizada por uma atitude ousada e rebelde, muitas vezes associada a uma mentalidade "rave" e uma abordagem mais livre e despretensiosa em relação à moda.

As roupas usadas na cena techno muitas vezes eram extravagantes, com cores vibrantes, estampas psicodélicas e materiais brilhantes. Os frequentadores das festas de techno não tinham medo de se destacar e se expressar através de suas roupas.

O estilo "raver" era comum na cena, caracterizado por calças baggy (largas), camisetas folgadas, tênis confortáveis e acessórios como pulseiras de neon, colares de contas e bonés virados para trás.

A influência do punk e da estética industrial também era notável na moda da cena techno de Berlim. Roupas rasgadas, jaquetas de couro, spikes e elementos metálicos eram comuns.

Devido às festas frequentemente acontecerem em locais abandonados ou com luzes estroboscópicas intensas, algumas pessoas usavam óculos de proteção ou máscaras como parte de sua roupa de festa.

A cultura da tatuagem e dos piercings também se entrelaçou com a cena techno, refletindo a atitude de autoexpressão e individualidade.

A moda na cena techno de Berlim refletia uma atitude anti-establishment, desafiadora das normas sociais e convencionais. Era uma forma de expressar uma identidade única e se distanciar do mainstream.

Essa estética da cena techno de Berlim teve um impacto duradouro na moda de rua da cidade e continua sendo uma fonte de inspiração para muitos designers e artistas até hoje. A ideia de se vestir de forma criativa, individualista e fora dos padrões convencionais ainda é muito valorizada em Berlim, tornando a cidade um centro de vanguarda e inovação em termos de moda e estilo.

Com raízes nas comunidades afro-americanas da antiga metrópole industrial de Detroit (EUA), o ritmo atravessou o Atlântico e ganhou fama na Europa, fazendo de Berlim a capital mundial do techno.

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Leonardo Coletti

Leonardo Coletti