O real poder da internet

Sempre dá pra tirar proveito.

Na próxima semana se inicia a COP30 e parte dos olhos do mundo estarão voltados para o Brasil, que recebe o encontro de líderes mundiais pra discutir o Meio Ambiente.

Grande chance de destaque para os creators brasileiros, principalmente os do Norte, que muitas vezes resistem na pauta ambiental - mesmo quando o engajamento não lhes recompensa.

Muito se fala sobre o impacto das Big Techs e da inteligência artificial na preservação do planeta, então vale ficarmos ligados se a pauta vai se encontrar com a Creator Economy nos próximos dias.

Parece que, até hoje, as gerações mais velhas olham pra Gen Z com um certo desdém: é a turma que não quer trabalhar, que não se compromete com nada, que vive trancada no quarto rolando o feed e fugindo da vida real. Mas, ironicamente, é justamente dessa vida da mesma internet que supostamente os alienou que estão surgindo alguns dos movimentos políticos mais intensos da última década.

Começa que esse tipo de impressão atravessa todas as gerações - ou você acha que os Boomers não achavam a geração da contracultura um bando de maconheiro hippie que só queria ouvir música? A Gen Z mostrou que veio pra impor limites, desde os relacionamentos ao mercado de trabalho, num movimento contrário ao dos Millennials, que tiveram muita dificuldade pra se valorizar.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, que citou uma regra que vem da Antropologia dos Mitos, esse fenômeno de uma geração tomar um rumo contrário à anterior acontece sempre:

"Existe uma permutação alternante entre gerações: uma geração cria um ideal A, a subsequente é A ao contrário. A seguinte volta no A, só que modificado. Então uma geração lá atrás sonhou em se sacrificar até os 40 ou 50 anos, pra ‘vida de verdade’ começar depois da aposentadoria. Aí vem uma próxima geração que vai recriar essa coisa do sacrifício, porque talvez não precise ser um tão longo.”

O Dunker falou isso no “Cansei .”, documentário sobre saúde mental e produtividade em tempos pandêmicos. Fica aqui uma boa dica! :)

O fato é que, por mais que algumas pessoas prefiram uma lente ou outra pra enxergar o mundo inteiro, ao invés de tentar compreendê-lo em todas as suas complexidades, a Gen Z está sim se mobilizando. Dada as atuais condições de saúde mental e do meio ambiente no nosso planeta, dá até pra dizer que essa galera é a que mais se importa na história inteira com o futuro da humanidade.

A BBC produziu uma reportagem pra mostrar como a Gen Z está se mobilizando em vários países para lutar por direitos e melhores condições de vida: em Madagascar, jovens foram às ruas contra a falta de energia e água e acabaram derrubando o governo. No Quênia, a indignação com a corrupção e o custo de vida explodiu em protestos digitais e físicos que assustaram o sistema político. E no Peru, a pressão da juventude diante dos escândalos de corrupção se transformou em uma força tão grande que o Congresso acabou afastando a presidente do cargo.

Esses são só três exemplos de um movimento que tá acontecendo em vários lugares ao mesmo tempo. Da Indonésia ao Marrocos, do Paraguai ao Nepal, a Gen Z está ocupando não apenas as ruas, mas os feeds. A política não é mais decidida apenas em palanques ou gabinetes: para o bem ou mal, ela agora se faz também no algoritmo.

E aqui entra a Creator Economy: enquanto creators transformam influência em renda, jovens ativistas tentam canalizar influência em impacto político.

A lógica do engajamento é parecida: o que viraliza ganha força, se espalha, mas precisa emocionar pra virar pauta. A diferença é que, em vez de conversão em vendas, a métrica é conversão em indignação - e o nosso mercado é tão grande, que mesmo disputando 3 segundos de atenção, cabe todo mundo.

Mas é, no mínimo, curioso observar que o mesmo ecossistema que muitos associam à distração e à superficialidade — os vídeos curtos e apelativos e os comentários de ódio — virou a principal ferramenta de mobilização global. É ali, entre trends, que a gente também aprende a cobrar os nossos direitos.

Antigamente, era uma tarefa quase impossível pra um cidadão comum descobrir quem são todos os deputados federais que compõem o nosso Congresso e o quão ricos eles são. Hoje, creators que se importam com a qualidade do conteúdo que entregam pra sua audiência nos dão esse tipo de informação em segundos.

A internet, que antes servia pra nos entreter, agora também serve pra nos lembrar de que o mundo não é justo. Não entendam mal, a internet da era da ignorância política era uma benção: ninguém se importava muito em quem o coleguinha votava, a gente achava o máximo poder se conectar com alguém do Paquistão em um chat qualquer e o auge era postar foto de comida com filtro craquelado.

Só que, como toda ferramenta poderosa, essa também tem um lado B. A mesma lógica que impulsiona protestos pode, facilmente, fragmentá-los. Movimentos sem líderes fixos são mais horizontais, mas também mais frágeis. Hashtags unem pessoas, mas não necessariamente constroem um movimento sólido. O algoritmo adora um pico de atenção - e a gente também, porque se a FOMO bate qualquer trend é bem-vinda, mas não lida bem com processos de longo prazo. E tem tanta gente descrente com a política exatamente por isso: é um longo processo.

Esse dilema é parecido com o que a Creator Economy enfrenta todos os dias: o creator que viraliza uma vez e desaparece depois, vive o mesmo risco que um movimento que derruba um governo, mas não consegue manter a força para reconstruir o que vem depois. A diferença é que, no caso dos creators, o prejuízo é o engajamento; no caso da política, é o destino de um país inteiro.

Steven Feldstein, pesquisador sênior do centro de estudos norte-americanos Carnegie Endowment for International Peace, explica à BBC que: "A mudança exige que as pessoas encontrem uma forma de transformar um movimento online disperso em algo com visão de longo prazo, com vínculos que sejam tanto físicos quanto online."

Mesmo assim, é difícil não enxergar esperança nessa onda. Porque, no fundo, ela mostra que a Gen Z se importa sim - e ela não pode estar sozinha pra sustentar mudanças políticas significativas.

No meio de tanto ruído, a internet pode, sim, aprisionar. Pode criar bolhas, reforçar narrativas, nos anestesiar com uma avalanche de conteúdo. Mas ela também pode libertar, buscando informações e compartilhando ideias. Essa geração talvez não esteja transformando governos no sentido tradicional, mas tá testando formatos e experimentando novas maneiras de fazer política.

Sempre tem quem passe horas nos comentários dos posts, ao invés de ficar rolando o feed. Você encontra dicas de séries, filmes, discussões, gente falando que fez a receita e não deu certo, ou que deu de outro jeito, piadas e por aí vai.

A Gen Z não escreve manifestos longos, mas faz threads informativas com a medida certa do que você precisa saber e consegue absorver. Pode nem sempre sair às ruas, mas ocupa os espaços digitais (a gente viu o quanto isso foi importante na época do isolamento social). Não confia em partidos, mas acredita em causas.

E talvez esse seja o ponto que as gerações anteriores ainda não entenderam: não é falta de interesse — é uma mudança na forma de se interessar.

A vida é feita de momentos, um bom atacante aproveita o bonde pra cavar mais jobs. É maneiro acompanhar a sagacidade de quem tá antenado no mercado pra produzir campanhas fugindo do modelo tradicional da publicidade.

A gente aprendeu a encarar a carreira como um negócio, que se constrói com o tempo, e influência é consequência de um trabalho bem feito.

A Gen Z está derrubando governos.

"Enquanto isso", mais um capítulo.

Qual o real poder da internet?

Você tem um olhar afiado?

Isso é real ou IA?

Texto inspirado na News #31 do YOUPIX.

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Leonardo Coletti

Leonardo Coletti

Jornalista, DJ e Creator.
Brazil