Admirável Mundo Novo
Se você consome podcasts há um tempo considerável - e estamos falando da pandemia pra trás, tá? Deve se lembrar também que não era uma tarefa tão simples assim até 2017.
Por mais que plataformas que a gente já usava pra ouvir música, como o Spotify, já permitiam a publicação de podcasts, era muito difícil e custoso pra algum creator fazer isso de casa.
Normalmente, os podcasts eram programas da mídia alternativa aqui no Brasil, diferente dos Estados Unidos, onde eles já formavam um tipo de mídia muito conhecido.
Era mais conveniente ouvir pelo computador, no navegador de internet mesmo, porque os nossos celulares não tinham tanta memória pra baixar o ‘tocador de podcast’, como a gente chamava os apps na época e nem todo mundo tinha 3G fácil. Hoje, 75% dos ouvintes de podcast escutam os programas pelo celular.
Ah, e o mais importante de lembrar:
Podcast era feito em áudio. Ponto.
Com enorme influência do rádio.
Diga-se isso (de passagem).
Nada contra os videocasts, que são muito legais e dão a oportunidade de ver as pessoas que a gente gosta, num movimento que tem tudo a ver com o fato do YouTube estar virando a TV de muita gente. Mas, na época, o podcast era uma experiência só de ouvir. Então tudo começou a crescer rápido demais.
Se você não quiser cravar que 2018 foi o ano do podcast no Brasil, dá pra dizer, pelo menos, que foi o ano meio. Isso porque o formato existe por aqui desde 2004, mas só nessa época a gente passou a ter à disposição, de forma gratuita, fazer o upload de um podcast direto nas plataformas.
Pouca gente ainda se arriscava a gravar de casa, porque a falta de qualidade era uma pedra no sapato. E, se a gente tá falando de uma experiência auditiva, um áudio bom é essencial. Mesmo assim, vale destacar que a produção desse tipo de mídia estava apenas caminhando pra se democratizar a passos largos.
Conseguir um estúdio, se você estivesse numa grande cidade, também não era muito difícil, porque as produtoras viram nesse formato emergente a possibilidade de oferecer mais um serviço, sem precisar comprar equipamentos novos.
O comercial também tava entrando com força nos podcasts, patrocinando temporadas inteiras, ou até episódios específicos. E aí os podcasts que já existiam passaram a ter novos ouvintes e os gêneros de true crime, talk show, narrativos, de entrevistas e, principalmente, de amigos falando bobagens, explodiu com força.
As eleições presidenciais de 2018 foram as primeiras que tiveram uma cobertura intensa no formato podcast, que mostrou que vinha pra ficar. Tava tudo caminhando, realmente.
Com o avanço da tecnologia cada vez mais acessível na palma da nossa mão, tanto a experiência de ouvir quanto a possibilidade de produzir crescendo cada vez mais, e alguns podcasts com uma comunidade grande, passaram a abrir espaço para novos projetos que usavam o mesmo espaço pra gravar.
Esse movimento natural, além de contribuir pro desenvolvimento do formato, se fortaleceu, investiu e passou a ganhar muito dinheiro: é o caso do Grupo Flow, que abriu espaço para o surgimento do Podpah e, hoje, ambos são dois dos videocasts mais conhecidos do país.
Com o cenário consolidado, seria 2019 o ano do podcast no Brasil? Muita gente botou fé, mas não contava que o mundo iria, literalmente, parar no ano seguinte.
A essa altura do campeonato, 4 em cada 10 internautas já tinham escutado algum podcast e a pandemia de fato transformou o videocast no formato queridinho pra fazer companhia em tempos de isolamento social, acelerando ainda mais esse comportamento de assistir YouTube como costumávamos fazer com a televisão tradicional. Até esse ponto, metade das pessoas achavam que o ano do podcast já tinha acontecido, porque agora o formato estava estabelecido, enquanto a outra metade dizia que o boom seria maior ainda.
Dito e feito: em 2022, o Brasil já ocupava o 3º lugar no ranking global de ouvintes de podcast.
Uma pesquisa feita pelo Globo, em parceria com o Ibope, mostrou que o total de 57% dos entrevistados começaram a ouvir podcasts durante a pandemia.
E quem já ouvia passou a escutar ainda mais: fazendo tarefas domésticas, enquanto navega na internet, antes de dormir, trabalhando ou estudando, no carro ou transporte público, fazendo atividades físicas e até no tempo livre.
E então: já foi, ou ainda será?
É difícil cravar se o ano do podcast já aconteceu, ou se será o próximo.
Nesse ponto da conversa, a gente também precisa se perguntar: ainda faz sentido correr atrás desse rótulo?
Quando o formato não era mainstream, tudo bem, mas hoje em dia o podcast está inserido na vida do brasileiro de algum jeito e, mesmo quem não ouve, sabe o que é - mesmo que não conheça pelo nome.
Segundo a PodPesquisa 2024/2025, o Brasil já conta com mais de 31 milhões de ouvintes de podcast, dos quais 40% ouvem diariamente.
Vale destacar também como o YouTube se consolidou como uma plataforma essencial para o ecossistema do podcast, registrando 1 bilhão de espectadores mensais que consomem esse tipo de conteúdo, principalmente entre a Gen Z.
O vídeo passou a ter impacto direto numa indústria que, até pouco tempo, era exclusiva do áudio.
E, a partir de agora, até o Globo de Ouro reconhece o poder do podcast e vai premiar o podcast do ano a partir de 2026.
A Creator Economy também reconheceu o papel do podcast no nosso mercado, que se foi avaliado em cerca de 250 bilhões de dólares em 2023, deve quase dobrar até 2027. E, no meio dessa onda, os podcasts viraram uma das formas mais fortes de marcas e creators se conectarem de verdade com o público, formando comunidades sólidas e fiéis.
O formato cria laços fortes e engaja como poucos formatos fazem. Um exemplo que a gente usa muito é: você talvez lembre de um vídeo que viu, ou do rosto de um creator, mas de quantas contas que você segue, você realmente sabe o nome e a história da pessoa?
No podcast, a gente se conecta profundamente com quem produz, principalmente pela ideia de que a pessoa está falando diretamente comigo.
E o mercado da publicidade também podem ser um diferencial pra creators que têm dificuldade em fechar #publis no Instagram - até porque nem tem job pra tanto creator. Os anúncios no meio dos podcasts, por mais que sejam caracterizados, soam naturais, passam confiança e mantêm a vibe da conversa.
Mais de 85% dos ouvintes dizem curtir esse tipo de anúncio justamente porque ele parece fazer parte do conteúdo. Inclusive, já são inseridos de forma dinâmica, levando em conta o perfil e interesses da audiência, o que deixa mais certeiro.
O poder real está na comunidade.
Dois milhões de views em um reels não se comparam a dois mil ouvintes semanais que ficam com você até o fim do episódio. É esse poder de retenção, intimidade e pertencimento que transformou creators como Lela Brandão em uma das referências no formato.
E não para por aí: o podcast pode ser a grande saída pro creator que não aguenta mais viver ansioso pelas mudanças doidas do algoritmo, que pode até pedir fórmulas rápidas, mas nem todo creator cabe em 30 segundos.
O ouvinte se sente parte da conversa, confia no host e compra a ideia. Pra marcas, isso é ouro: mais que reconhecimento, é influência na veia.
E com o crescimento das redes e da qualidade do áudio, o formato segue se firmando como uma das formas mais humanas e eficazes de criar conexão na Creator Economy.
Tem muita gente tentando usar menos as redes sociais, porque tem muita bobeira, muita informação, ou muita alegria alheia enquanto eu tô triste, ou muita tragédia, demais pra qualquer ser humano suportar. Só história triste.
A gente vai vivendo no modo automático e, quando percebemos, estamos anestesiados por qualquer coisa. Nada mais alegra ou abala tanto.
Se eu leio, eu tenho que ler tantas páginas por dia e criar conteúdo de leitura. Se eu corro, eu tenho que correr X maratonas no ano. Se eu faço artesanato, eu preciso vender essas peças.
Por que todos os nossos hobbies precisam servir pra alguma coisa?
E se a gente simplesmente fizer alguma coisa... porque a gente gosta? Essa era performática tá acabando com o sentimento pelas coisas que a gente gosta.
Experimenta fazer alguma coisa só por fazer. É libertador em tempos onde até o sono precisa ser produtivo. Se essa moda pega. Nem mesmo sabemos que direção seguir, nos falta um mapa para novos terrenos potenciais.
"Nenhum humano é limitado." - Eliud Kipchoge
Tranquilidade suprema, sensibilidade incomparável.
Tristeza não tem fim. Felicidade sim.
Cultive a rebeldia de ser alguém.
Nunca seja indiferente.
Insight ~roubado~
Vale ouvir.
Esse texto foi inspirado na News #30 do YPX. Para aprofundar mais, corre pro @instayoupix e receba, o olhar da Rafa Lotto e de todo time :)