O cenário transforma o trabalho

Você se lembra como era a vida em 2019? Pois é, parece um universo paralelo, eu sei.

Dois anos atrás saíamos de casa para ir ao trabalho com frequência, nós íamos ao shopping para comprar roupas e calçados, fazíamos mercado presencialmente - até porque a ideia de escolher frutas e legumes online parecia de outro mundo.

E era mesmo. Porque, naquela época, levávamos a vida de forma linear, dividindo as tarefas entre dois mundos que sempre se falaram - o físico e o digital, mas com uma espécie de muro invisível entre eles.

Tinha coisa que a gente só fazia pela internet; e tinha coisa que era presencial, do contato humano, olho no olho, certo?

Aí veio a pandemia. E tudo mudou.

Dizem que têm coisas que acontecem para tirar a gente do lugar. E nem mesmo as principais autoridades de governos, nem os executivos das maiores empresas, nem os investidores mais bem informados e experientes sacaram como a nossa vida ia mudar de cabeça pra baixo a partir de 2020. Você sabe por quê?

Porque eventos assim acontecem, de tempos em tempos, e tem inclusive um nome para isso: cisnes negros. São situações caóticas e imprevisíveis que surgem rapidamente e deixam a gente meio sem prumo e cheio de dúvidas e angústias.

E se são eventos imprevisíveis, não dá pra saber a hora e o lugar para a gente se preparar. Então, o remédio para esse tipo de "dor" que chega sem avisar está dentro de nós mesmos, e ele está diretamente relacionado às nossas profissões. Ficou confuso(a)? Eu explico melhor.

Uma pergunta rápida: você tem um trabalho ou um emprego?


Eles parecem a mesma coisa, mas não são. Trabalho é a capacidade de você prestar serviços distintos, e para mais de um contratante, com o objetivo de gerar renda.

Já o emprego é uma versão limitada dessa perspectiva e que geralmente está vinculada a apenas uma fonte de renda.

Percebe como estou falando de dimensões diferentes?

Enquanto o profissional do primeiro caso que comentei tem mais flexibilidade para atuar com mais de uma coisa ao mesmo tempo - e depender menos de cada trabalho - o outro fica "preso" a uma dinâmica que funcionou por muitas décadas, mas que, agora e daqui pra frente, tende a não entregar os mesmos resultados sólidos.

Por quê? Porque o plano de carreira, que fez tanto sentido para os nossos pais, simplesmente acabou. Um movimento que muitos chamam de "A grande renúncia".

Pode perceber: nos últimos anos, as relações entre empresas e profissionais têm ficado cada vez mais flexíveis, com vínculos mais frágeis. Parafraseando o filósofo Zygmunt Bauman, são os chamados "tempos líquidos".

É o reflexo do que eu comentei de uma nova era focada mais em entregas (pontuais ou recorrentes) e menos no trabalho fixo e contínuo. Não é à toa que a nossa geração é considerada a mais empreendedora da história. Atualmente, o Brasil tem cerca de 13.400 startups mapeadas - em 2018, eram 10.000.

E detalhe: só neste ano, algumas startups brasucas - como a Hotmart e a MadeiraMadeira - entraram para a seleta lista dos unicórnios (startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão).

Ou seja, somos uma geração de profissionais que veem potencial na imensidão de oportunidades disponíveis na internet - e em todos os pontos de contato em que haja tecnologia envolvida.

É isso o que está moldando o futuro do trabalho, e é por isso que você precisa olhar com muita atenção para esse movimento e planejar o seu futuro em sintonia com essas tendências.

Todo esse contexto faz parte da transformação digital sem precedentes que estamos vivendo no Brasil e no mundo.

O que está acontecendo agora até poderia ter acontecido anos atrás, mas foi impulsionado pela pandemia.

Trata-se de uma migração inédita e em larga escala para a internet, o que traz demandas específicas em todas as áreas correlacionadas, como marketing digital, por exemplo.

Como diz o Ícaro de Carvalho, nós temos dois Brasis hoje em dia: o País que sofre os efeitos profundos da pandemia e que tem uma alta taxa de desemprego, e o País com a economia em recuperação e alguns setores extremamente aquecidos, alguns deles, inclusive, com mais vagas do que profissionais capacitados.

Se eu te disser que conheço pessoas que recebem mais de uma proposta de trabalho por semana, você acreditaria?

A questão é: em quais desses dois Brasis você se encaixa em termos profissionais? E o que pode fazer para aproveitar as oportunidades que já existem e que devem aumentar ainda mais nos próximos anos?

A resposta está nas áreas mais beneficiadas pelo boom da tecnologia.

Vou comentar brevemente sobre 10 profissões em que vejo potencial para o futuro - e que, consequentemente, deverão pagar muito bem.

Alguns exemplos são: programador (responsável pela concepção, construção, desenvolvimento e manutenção de diferentes tipos de sistemas de informação); designer (responsável por desenvolver o visual amigável para sites, apps e outras páginas); copywriter (responsável pela tarefa de criar conteúdos atraentes para impactar e converter potenciais clientes); gestor de tráfego (responsável por administrar campanhas de alcance pago em plataformas como o Facebook Ads e Google Ads); Business Intelligence (responsável por analisar e dar sentido à enorme quantidade de dados que são gerados a todo momento); social media (responsável por planejar e publicar conteúdos nas redes sociais, assim como fazer a interação com o público); entre muitas outras em ascensão.

Percebe como todos esses trabalhos têm a ver com o canal que mais utilizamos para nos comunicar, informar e consumir: a internet? Então, a grande sacada profissional é entender para onde os mercados estão caminhando e direcionar a aplicação das habilidades para o mesmo caminho. E engana-se quem acha que é preciso ter um conhecimento avançado em tecnologia para isso.

Algumas das profissões do futuro podem ser desenvolvidas aos poucos, por meio de cursos de especialização, estudos aprofundados e experiências práticas.

Eu sei quão complicado pode ser aprender competências novas e recomeçar, mas também sei que o esforço pode ser muito recompensador para quem quiser - e puder - embarcar no desafio de buscar conhecimentos relacionados às profissões do futuro. Esse processo pode ser feito inclusive ao mesmo tempo em que você exerce outra atividade, num formato que já ganhou até nome: o fenômeno das carreiras múltiplas.

Pode ser que a insegurança de apostar em uma nova área basta em algum momento, mas o conhecimento acumulado certamente será útil para iniciar essa nova jornada aos poucos - sem falar na possibilidade de dar uma guinada na vida quando a zona de conforto começar a incomodar. Até porque, a carreira está em constante transformação - mesmo que a gente não consiga ver com clareza.

Uma vez participei de um evento em que uma mensagem chamou muito a minha atenção: o palestrante que estava no palco disse que, ao longo da vida, muitos de nós iremos mudar de carreira até 3 vezes para acompanhar as mudanças do mercado de trabalho, continuar competitivos e, claro, mantendo a renda até a hora de aposentar.

Será que você será uma dessas pessoas?

Um agradecimento especial ao meu amigo jornalista Marcelo Gripa, co-fundador de Futuros Possíveis, que me ajudou a escrever o texto deste post.