A cultura da performance manda um abraço
Ufa, o ano está chegando ao fim! Não que eu queira que ele termine logo (até porque conquistei muita coisa bacana nos últimos meses e acho que evoluí em vários aspectos), mas é que 2021 foi muito intenso. Intenso principalmente por causa dos efeitos da pandemia e das mudanças que todos nós tivemos que fazer para continuar caminhando em meio ao caos que a doença causou - e ainda causa. Afinal, são mais de 600.000 mortes - muitas delas evitáveis, a gente sabe - e uma onda de incertezas de quando finalmente iremos vencer o vírus.
Fim de ano é ideal para fazer respectiva, certo? E, infelizmente, quando olhamos para o todo (além da nossa realidade individual) enxergamos muita coisa ruim. O discurso negacionista de "a economia não pode parar" teve tom hipócrita e foi muito prejudicial. Enquanto uma minoria de pessoas de classe média e alta escolarizada puderam contar com o benefício do home office e a conveniência de pedir comida em casa, a maioria da população (estimada em 71 milhões) simplesmente não teve a opção de permanecer isolada e em segurança.
Esse cenário desolador traz consequências nefastas para toda a sociedade: a fome voltou a ser um pesadelo para 19 milhões de pessoas e, em São Paulo, há relatos de gente desmaiando em fila de postos de saúde por não ter o que comer; o desemprego atinge 13,5% da população e nos coloca em quarto lugar do mundo nesse tipo de ranking deplorável; a desigualdade social ainda é gigantesca no País: segundo o IBGE, 1% mais rico ganha 35x mais renda do que os 50% mais pobres. Viu como não dá para a gente olhar o mundo através das nossas lentes? É preciso olhar o todo, para os lados, para a frente e para trás.
E, por que não, olhar também para o que a gente ainda não conhece?
Já que estou falando da realidade, vou fazer um link com as grandes empresas, que não estão muito interessadas em problemas reais e constroem suas próprias realidades paralelas. Jeff Bezos, criador da Amazon e homem mais rico do mundo, é um dos que foi duramente criticado por gastar os tubos para dar uma voltinha no espaço. Entre os críticos está até o Príncipe William, que diz que ao investirem em viagens espaciais em vez de limitar os efeitos da crise climática, os bilionários estão "roubando o futuro dos nossos filhos". Será?
Outro bilionário que está interessado em seu próprio mundo é Mark Zuckerberg. Para quem não acompanhou, recentemente ele mudou o nome do Facebook para Meta, na intenção de popularizar o termo Metaverso. Já ouviu falar? Trata-se de um movimento da empresa para criar ambientes virtuais que possam ser habitados por nós para estudar, trabalhar e se divertir em locais digitais altamente imersivos. Tudo isso através de óculos leves e finos de realidade virtual. O próprio Zuckerberg reconhece que "talvez isso soe como ficção científica", mas quando a gente percebe a enorme influência do Facebook nas nossas vidas, eu diria que ele merece um crédito de confiança.
Eu tenho muitas ressalvas em relação ao modelo de negócios do Facebook e a forma misteriosa como o algoritmo da empresa funciona, mas devo admitir que eles mandam bem numa missão que é impossível pra todos nós: adivinhar o futuro. Assim como eu e você, eles também não conseguem adivinhar o futuro, mas são bons em propor ideias que nos levem até lá. É como diz o ditado: "o futuro pertence a quem acredita na beleza de seus sonhos".
Por falar nisso, eu quero refletir um pouco sobre o nosso futuro enquanto sociedade e, principalmente, enquanto profissionais. Nos textos anteriores, eu já falei das diferenças entre trabalho e emprego, contextualizei todo o movimento da chamada economia de conteúdo e falei da adaptabilidade como competência importantíssima para conseguir sucesso na carreira.
E agora, como será a nossa vida em 2022? Será que vamos voltar ao antigo normal ou o futuro será híbrido? Será que apenas uma parte das pessoas conseguirá continuar trabalhando de casa ou o avanço da digitalização vai permitir esse benefício para mais gente? Não sabemos…
O que sabemos é que precisamos abraçar o desconhecido e nos preparar da melhor forma possível para um mundo que muda o tempo todo e que nos coloca questões importantes, por exemplo, as formas de adaptação a cada um desses cenários.
A saúde mental merece destaque. Basta olhar à sua volta para identificar pessoas que possam estar sofrendo de esgotamento físico e mental, conhecido como síndrome de Burnout. Outra parte dessa mesma história é a síndrome do FOMO (Fear of Missing Out), que é quando estamos tão viciados no senso de pertencimento que as redes sociais nos trazem que ficamos ansiosos ao estar fora delas.
Tudo isso nos apresenta um paradoxo complexo. Se por um lado queremos (e precisamos) estar por dentro do que acontece (e as redes sociais costumam ser os primeiros veículos desses movimentos), por outro nos vemos cada vez mais dependentes delas. E não apenas delas, mas da tecnologia de comunicação de forma geral. Para citar mais uma sigla desse universo complexo, a GAFA representa as big techs (Amazon, Google, Facebook e Apple) e levanta uma discussão importante sobre o quanto conseguimos fazer um detox dessas empresas. Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: é preciso buscar o autoconhecimento e o autocontrole para conseguir viver em paz em meio a tanta coisa que se passa pela nossa cabeça.
Como fazer isso? Depende de cada um, ao seu estilo e, principalmente, no seu tempo. Os seres humanos não são máquinas mecânicas com botões a serem pressionados para obter repostas previsíveis.
Um agradecimento especial ao meu amigo jornalista Marcelo Gripa, co-fundador de Futuros Possíveis, que me ajudou a escrever o texto deste post.